O desaparecimento progressivo da espécie preocupa ambientalistas, acadêmicos e organizações internacionais. A queda na população de jumentos no Brasil foi de 94% nas últimas duas décadas, revelando um cenário alarmante para o equilíbrio ecológico e para a cultura do semiárido nordestino, onde esses animais sempre tiveram papel essencial. A população de jumentos no Brasil, que já ultrapassou um milhão de exemplares, hoje está reduzida a apenas 78 mil animais, segundo dados de 2025 coletados pela FAO, IBGE e Agrostat. O ritmo de declínio ameaça transformar o jumento em uma espécie funcionalmente extinta no território nacional.
A população de jumentos no Brasil enfrentou, entre 2018 e 2024, um abate intensivo, principalmente no estado da Bahia. Somente nesse período, cerca de 248 mil animais foram abatidos em três frigoríficos licenciados pelo governo federal. Este processo de industrialização da carne e da pele dos jumentos tem como principal objetivo a fabricação de ejiao, produto utilizado em países asiáticos para fins medicinais e estéticos. A exportação do colágeno extraído da carcaça desses animais impulsiona um comércio controverso, que coloca em risco definitivo a população de jumentos no Brasil.
Apesar da crescente pressão de entidades protetoras dos animais, como a The Donkey Sanctuary, e da realização de campanhas públicas, ainda não há medidas governamentais efetivas para conter o colapso da população de jumentos no Brasil. A ausência de respostas do Ministério da Agricultura e Pecuária reforça a fragilidade das políticas públicas voltadas à proteção da biodiversidade. Enquanto isso, tramitam dois projetos de lei no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa da Bahia que buscam proibir o abate de jumentos, aguardando apenas aprovação legislativa para se tornarem efetivos.
A população de jumentos no Brasil é historicamente ligada à agricultura familiar, ao transporte de carga e à subsistência de milhares de famílias rurais, especialmente no Nordeste. A perda desses animais também representa uma ameaça à cultura regional, à sustentabilidade econômica e à biodiversidade nacional. Especialistas defendem soluções tecnológicas para substituir o uso da pele animal, como a produção de colágeno em laboratório por meio da fermentação de precisão, o que poderia reduzir significativamente a pressão sobre a população de jumentos no Brasil.
Estudos acadêmicos e seminários internacionais têm buscado debater os impactos socioambientais causados pelo desaparecimento da espécie. A terceira edição do seminário Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável está sendo realizada em Maceió entre os dias 26 e 28 de junho, reunindo especialistas nacionais e internacionais em busca de alternativas viáveis. Durante o evento, será lançada a campanha global Stop The Slaughter, que visa sensibilizar governos e consumidores sobre a necessidade de proteger a população de jumentos no Brasil e garantir sua preservação.
Para a coordenadora da campanha no país, os jumentos podem ter três caminhos sustentáveis: viver em liberdade, continuar servindo à agricultura familiar ou serem reconhecidos como animais de companhia. Essas abordagens, no entanto, exigem investimentos e conscientização da sociedade sobre o valor cultural e ecológico dos jumentos. O declínio da população de jumentos no Brasil, portanto, é mais do que um problema numérico, é uma questão ética, ambiental e socioeconômica que exige ação urgente do poder público.
A continuidade da redução da população de jumentos no Brasil também está diretamente ligada à ausência de fiscalização e à permissividade do Estado em autorizar matadouros a comercializarem carne e pele sem critérios técnicos sustentáveis. Além disso, o transporte clandestino de animais e as más condições nos currais agravam o sofrimento desses seres, muitas vezes mortos sem protocolos sanitários adequados. A negligência institucional é um agravante para o desaparecimento iminente da espécie.
O futuro da população de jumentos no Brasil depende agora da pressão da sociedade civil, de decisões legislativas responsáveis e de uma mudança de mentalidade sobre o uso dos animais no mercado global. Se nada for feito nos próximos anos, o Brasil pode ser responsável pela extinção de uma espécie que por séculos foi símbolo de resistência, trabalho e convivência harmônica com o ser humano. Proteger os jumentos é proteger a memória do povo brasileiro e a riqueza ambiental do país.
Autor: Timofey Filippov