O depoimento de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 trouxe à tona novos detalhes sobre as ações e intenções do ex-presidente durante o período de transição. Durante cerca de duas horas e meia de interrogatório, Bolsonaro negou de forma direta qualquer articulação para romper a ordem democrática no país, embora tenha admitido que discutiu possibilidades com sua equipe e com comandantes das Forças Armadas. Segundo o ex-presidente, todas essas discussões ocorreram dentro dos limites estabelecidos pela Constituição brasileira.
Bolsonaro depõe no STF e tenta afastar a imagem de conspirador, afirmando que nunca houve conversas entre ele e os comandantes militares sobre a possibilidade de golpe. Para o ex-presidente, uma ruptura institucional traria consequências imprevisíveis e prejudiciais para todos os envolvidos. Ele destacou ainda que, mesmo diante das manifestações de apoiadores que pediam intervenção, jamais cogitou tomar qualquer atitude nesse sentido. Na sua avaliação, os pedidos por medidas autoritárias vinham de pessoas que ele classificou como malucas e desconectadas da realidade legal e política do país.
No momento em que Bolsonaro depõe no STF, ele também reconhece que discutiu cenários jurídicos e políticos diante das manifestações que ocorreram após sua derrota nas urnas. Um dos temas mencionados foi a decretação de Garantia da Lei e da Ordem, a chamada GLO, caso houvesse agravamento das paralisações nas estradas por caminhoneiros ou atos em frente a quartéis. Bolsonaro reforçou que essas reuniões analisavam cenários dentro do arcabouço constitucional e que nenhuma medida efetiva chegou a ser tomada. O ex-presidente rejeitou qualquer acusação de tentativa de subverter o resultado eleitoral.
Ao longo do interrogatório em que Bolsonaro depõe no STF, também foi abordada a chamada minuta do golpe, um documento que teria sido elaborado no Palácio do Alvorada com a presença de oficiais militares. Bolsonaro confirmou a existência de uma discussão sobre o documento em dezembro de 2022, mas afirmou que o conteúdo nunca avançou. Ele alegou que não participou da redação e que não teve envolvimento direto na criação da proposta. Segundo o ex-presidente, a ideia foi rapidamente abandonada, sem qualquer encaminhamento prático.
Outra parte importante do depoimento em que Bolsonaro depõe no STF foi a reafirmação de suas críticas ao sistema de votação brasileiro. Ele voltou a defender o voto impresso e disse que questionar as urnas eletrônicas é um direito de qualquer cidadão. Bolsonaro negou que suas falas representassem ataques ao processo eleitoral e disse que críticas fazem parte do exercício da democracia. Em sua defesa, apresentou falas de outros políticos que também manifestaram desconfiança sobre o sistema eleitoral em ocasiões anteriores.
Durante o momento em que Bolsonaro depõe no STF, também houve espaço para um pedido de desculpas ao ministro Alexandre de Moraes. O ex-presidente reconheceu que cometeu um erro ao acusar Moraes e outros ministros de supostamente receberem propina para acobertar fraudes nas eleições. Bolsonaro afirmou que não tinha qualquer prova para sustentar essas alegações e que se tratava de um desabafo em uma reunião que não deveria ser gravada. Ele concluiu pedindo desculpas e disse que jamais teve a intenção de ofender ou acusar injustamente os magistrados da Suprema Corte.
Em tom irônico, durante a sessão em que Bolsonaro depõe no STF, ele ainda fez uma brincadeira com o próprio Moraes, perguntando se o ministro aceitaria ser seu vice em uma eventual candidatura presidencial em 2026. O comentário arrancou sorrisos, mas também serviu para mostrar a tentativa do ex-presidente de adotar um discurso mais conciliador, contrastando com o tom mais agressivo de outras ocasiões. A cena foi interpretada por analistas como uma tentativa de amenizar sua imagem perante o Judiciário e a opinião pública.
No encerramento do depoimento em que Bolsonaro depõe no STF, ele comentou sobre a decisão de não participar da cerimônia de posse de Lula em 2023. Segundo ele, não entregou a faixa presidencial porque não quis se submeter a uma vaia histórica. O gesto foi um dos símbolos mais marcantes do processo de transição e continua sendo lembrado por críticos e apoiadores como um reflexo do seu inconformismo com o resultado eleitoral. Ao longo da oitiva, Bolsonaro procurou se distanciar das atitudes mais radicais de seus apoiadores, tentando reforçar que, apesar das críticas, respeitou os limites da democracia.
Autor: Timofey Filippov