A Prevenção Quaternária é um conceito relativamente recente no campo da saúde pública e medicina preventiva. Segundo o médico Gustavo Khattar de Godoy, ela refere-se a ações tomadas para identificar pacientes em risco de intervenções médicas desnecessárias, protegendo-os contra procedimentos excessivos, exames invasivos ou tratamentos que não trazem benefício clínico real.
Este conceito ganha destaque em um contexto em que o avanço tecnológico e a pressão por resultados rápidos levam a uma prática médica frequentemente orientada pela medicalização excessiva. Assim, a Prevenção Quaternária se propõe a reequilibrar a prática clínica, colocando o foco na autonomia do paciente e na ética médica, promovendo uma medicina mais humanizada, baseada em evidências e no respeito às necessidades reais dos indivíduos.
Como a medicalização excessiva pode prejudicar mais do que ajudar?
De acordo com o doutor Gustavo Khattar de Godoy, a medicalização excessiva ocorre quando situações da vida cotidiana, como o luto, o envelhecimento ou sentimentos de tristeza, são tratadas como doenças que exigem intervenção médica. Esse processo pode levar a prescrições de medicamentos desnecessários, realização de exames com riscos próprios e, até mesmo, procedimentos cirúrgicos evitáveis.

Esses excessos não apenas aumentam os custos do sistema de saúde, mas também colocam o paciente em risco de eventos adversos, como reações a medicamentos, infecções hospitalares e traumas físicos ou psicológicos. A Prevenção Quaternária surge como um contraponto a essa tendência, propondo que menos pode ser mais quando se trata de cuidados médicos — uma abordagem que valoriza o discernimento clínico e a relação médico-paciente.
Quais são os princípios éticos que sustentam a Prevenção Quaternária?
A Prevenção Quaternária está profundamente ancorada nos princípios bioéticos fundamentais: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Ao evitar intervenções desnecessárias, o profissional de saúde respeita a autonomia do paciente ao oferecer informações claras e possibilitar escolhas conscientes. A beneficência e a não maleficência são garantidas quando se opta por intervenções que realmente oferecem mais benefícios do que riscos.
Para o doutor Gustavo Khattar de Godoy, a comunicação clara, empática e bidirecional entre médicos e pacientes é essencial para a implementação eficaz da Prevenção Quaternária. Quando há diálogo aberto, o paciente se sente à vontade para expressar dúvidas, receios e expectativas, e o médico consegue avaliar melhor a real necessidade de intervenções.
Como a Prevenção Quaternária impacta o sistema de saúde?
Ao evitar procedimentos desnecessários, a Prevenção Quaternária contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde. Reduzem-se os custos com internações evitáveis, cirurgias supérfluas e medicamentos que poderiam ser substituídos por mudanças de estilo de vida ou simples observação clínica. Além disso, diminui-se a sobrecarga de serviços especializados, permitindo que recursos sejam direcionados para casos que realmente exigem intervenção.
Diversos exemplos de intervenções médicas desnecessárias têm sido amplamente discutidos, destaca o médico Gustavo Khattar de Godoy. Exames de rastreamento em populações de baixo risco, como mamografias antes dos 40 anos sem indicação específica, tomografias em casos de dor lombar sem sinais de gravidade, ou uso rotineiro de antibióticos para infecções virais, são apenas alguns deles.
Em suma, o doutor Gustavo Khattar de Godoy enfatiza que ao se evitar procedimentos médicos desnecessários, o principal beneficiado é o próprio paciente. Ele reduz sua exposição a riscos, evita efeitos colaterais de tratamentos ineficazes e preserva sua integridade física e emocional. Ademais, o paciente se sente mais respeitado e empoderado quando é envolvido nas decisões sobre sua saúde. Essa abordagem fortalece a confiança na relação com os profissionais e melhora a adesão a tratamentos realmente necessários.
Autor: Timofey Filippov