As eleições presidenciais na Bolívia se transformaram em um ponto de inflexão para o futuro político e econômico da América do Sul. A disputa entre os candidatos Jorge Quiroga e Rodrigo Paz não apenas define o novo comando do país vizinho, como também revela problemas estruturais que afetam diretamente a relação com o Brasil. Em declarações recentes, o ex-presidente Jorge Quiroga trouxe à tona um tema sensível: a rota do tráfico internacional de drogas passando por território brasileiro. Isso reacendeu o debate sobre segurança regional e cooperação entre os países fronteiriços.
O posicionamento de Quiroga reflete uma mudança de tom no discurso eleitoral boliviano. Ao destacar o tráfico como um dos principais problemas do país, o candidato busca capitalizar o sentimento de insegurança da população e, ao mesmo tempo, apontar falhas do governo anterior no combate ao narcotráfico. A proposta de intensificar a cooperação com o Brasil sinaliza a intenção de reposicionar a Bolívia no cenário internacional como um parceiro ativo no enfrentamento do crime organizado, especialmente em regiões de fronteira.
Com a afirmação de que a Bolívia hoje exporta mais entorpecentes do que recursos naturais legalizados, o debate ganha contornos alarmantes. Essa comparação com o tradicional fornecimento de gás, um dos pilares da economia boliviana, sugere um colapso institucional que precisa ser enfrentado com seriedade. Para o Brasil, que compartilha uma longa faixa de fronteira com a Bolívia, o avanço desse tipo de comércio ilegal representa um desafio direto à segurança pública, à estabilidade política e ao controle do território nacional.
O posicionamento de Quiroga também deixa claro o seu ceticismo com relação a acordos comerciais como o que vem sendo discutido entre União Europeia e Mercosul. Ele os classifica como iniciativas distantes da realidade econômica sul-americana, priorizando mais o simbolismo político do que resultados práticos. Essa crítica à integração econômica regional sinaliza que, caso eleito, Quiroga pode adotar uma postura mais protecionista e voltada para alianças bilaterais, especialmente com países que possam colaborar no combate ao tráfico e ao crime transnacional.
O Brasil, nesse contexto, torna-se peça central nas estratégias bolivianas de segurança e cooperação regional. A troca de informações, reforço da vigilância fronteiriça e acordos de repressão ao tráfico podem ganhar novo fôlego sob uma eventual gestão de Quiroga. No entanto, isso exige também um alinhamento político e diplomático que esteja disposto a enfrentar a complexidade do problema. O tráfico de drogas não é apenas uma questão de repressão, mas envolve políticas públicas, inclusão social e combate à corrupção em várias esferas de poder.
A crise boliviana também expõe as limitações da governança regional em lidar com o crescimento das redes ilícitas. Ao longo dos anos, a fragilidade institucional de países andinos abriu espaço para que organizações criminosas se fortalecessem, cruzando fronteiras e estabelecendo rotas que desafiam as autoridades locais. Para o Brasil, a consequência mais visível é o aumento da violência em regiões de fronteira e o fortalecimento do tráfico interno, que abastece centros urbanos e agrava a criminalidade.
A disputa eleitoral atual se diferencia por trazer à tona questões que tradicionalmente não ganhavam protagonismo no debate político. Ao levantar o problema do tráfico internacional de forma tão direta, Quiroga dá visibilidade a um tema que exige soluções estruturais e parcerias estratégicas. Isso pode influenciar não apenas os rumos da eleição boliviana, mas também a política externa do Brasil, que terá de lidar com um possível novo aliado exigente na guerra contra o crime organizado.
O desfecho das eleições será decisivo para entender como a Bolívia pretende enfrentar seus desafios internos e qual será a postura adotada em relação aos seus vizinhos. Caso Jorge Quiroga vença o segundo turno, as expectativas são de mudanças significativas na condução das políticas de segurança e relações internacionais. Para o Brasil, o momento é de atenção redobrada, pois o resultado eleitoral pode abrir espaço para uma nova fase de cooperação estratégica, marcada por interesses compartilhados e ameaças em comum.
Autor: Timofey Filippov

